Número de mulheres que sofrem violência sexual em ambiente
universitário é alarmante
Por Maria Clara Pereira e Mariana
Camargo
Segundo pesquisa
realizada em 2015 pelo Data Popular, 67% das alunas universitárias já sofreram
algum tipo de violência no ambiente universitário, 28% foram vítimas de
violência sexual, e 27% dos meninos não consideram violência tentar abusar da garota
se ela estiver sob efeito de álcool. 73% dos estudantes conhecem casos de
alunas que já foram abusadas, o ambiente universitário estimula a estrutura
patriarcal ao manter a tradição de que calouros devem obedecer e servir aos
veteranos, ao cultivarem a cultura de cantar músicas ofensivas nos jogos
universitários, ao ter professores homens em sua maioria, ao não dar voz às
garotas, ao não apresentarem nenhuma resolução para tais problemas, mesmo sendo
direito dos alunos recorrer à universidade.
Coletivos
É nesse
contexto em que os coletivos feministas universitários ganham força. Diante de
tantos relatos e nenhuma atitude tomada, as garotas resolveram se organizar
para darem apoio umas as outras e conscientizarem as pessoas de que o corpo da
mulher não é objeto de uso público. Na Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT)
o coletivo existe há dois anos promovendo rodas de conversas para ajudar e
orientar as estudantes, produzindo cartilhas de conscientização (sobre a Lei
Maria da Penha, por exemplo), e contam também com a assistência de uma psicóloga e
uma assistente social fornecidas pela Secretaria de Políticas Públicas Municipal.
A aluna de
medicina Julia Kalil, 19 anos, faz parte do coletivo da FMIT, e, segundo ela, a
falta de atitude da faculdade faz com que até mesmo as meninas que não se
consideram feministas acabem recorrendo ao coletivo em momentos de necessidade.
Segundo os dados do Data Popular, 88% dos alunos e 95% das alunas compartilham
da opinião de que a universidade deveria criar meios de punir os responsáveis
por cometer violência contra mulheres na instituição. Julia
acrescenta que o problema maior se dá por ser difícil mudar uma construção
social já existente, mas que aos poucos mudanças são conquistadas. “De uma
maneira geral, a gente têm conseguido avançar. A própria existência do coletivo
já faz com que as meninas tenham mais coragem de se posicionar”.
Vítima
Após uma festa
em uma república estudantil de Ouro Preto, Letícia Guisard, 20 anos, aluna de
arquitetura na época, relata ter sido abusada por um veterano quando ainda era
caloura. “Foi horrível, nunca pensei que alguém ia passar a mão em todas as
partes do meu corpo sem eu querer. Essa é a pior situação: você não quer
aquilo, você não está confortável com aquilo e a pessoa fica te forçando.”
Mesmo após anos, Letícia diz que nunca teve coragem de contar para as amigas
que moravam com ela o que aconteceu por não se sentir segura e ter medo do que
poderia enfrentar, já que o ambiente na cidade é muito hierarquizado e
machista.
Foto por Mariana Camargo
Que medidas tomar?
A orientação é que se adote medidas legais
independente do tipo de abuso sofrido, seja ele físico ou psicológico. A
advogada Ana Paula Braga, 25 anos, recomenda que a vítima
se dirija o quanto antes para uma delegacia de polícia (preferencialmente da
mulher) e registre o boletim de ocorrência, pois somente com este ela poderá
ser encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML) para realizar os exames de
corpo de delito e toxicológico. “São estas as provas que terão mais força na
hora de condenar o agressor, e elas tendem a desaparecer muito rápido.” Embora
a violência ocorra fora do campus, é de responsabilidade da instituição zelar
por seus estudantes, as medidas variam se esta é pública ou particular.
Por ser uma
forma de abuso tão naturalizada, as mulheres demoram a se dar conta da
violência que sofreram, chegando até a aceitarem isso como consequência de seu abuso do
álcool e/ou drogas, 42%das mulheres já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário. Não são raras as vezes em que o agressor é próximo à vítima,
podendo ser seu namorado, amigo ou até mesmo professor e usar de sua hierarquia
para ameaçar a vítima caso esta queira puni-lo. “A rigor, uma passada de
mão não consentida, um beijo forçado ou qualquer outro ato que envolva
intimidade e teor sexual é considerado estupro”, segundo Ana Paula, e deve ser
denunciado.
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