Mesmo passando por dificuldades, moradores de rua se ajudam
na esperança de uma vida melhor
Por Maria Clara Pereira
Nos últimos 15 anos, a população de moradores de rua da cidade de São Paulo aumentou cerca de 83%, chegando a 15.905 pessoas vivendo nessas condições. Segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), feita em parceria com a Prefeitura. Desse total, 55% se encontram no centro de São Paulo.
Os perfis de quem vive na rua são
diferenciados, segundo a assistente social do SPES (Serviço Promocional e
Social da Paróquia de Santa Cecília) Maria Helena, a maioria das pessoas que
chegam até ela procuram por ajuda para perder o vício em drogas ou álcool, para
conseguir um emprego, refazer a documentação, conseguir cestas básicas, roupas,
cobertores. “Aqui é um plantão social, onde são atendidos casos imediatos. Eles
(os moradores de rua) têm que procurar a nossa ajuda, nós não vamos até eles.”,
disse. A assistente social relatou ser comum também que homossexuais a procurem
por não serem aceitos pela família, por sofrerem com a desestruturação familiar
e não terem para onde ir, onde trabalhar.
Muitos são despejados pelas ações de
reintegração de posse realizadas pela prefeitura ou até mesmo perdem suas casas
por diversos motivos e acabam migrando para o centro da cidade, onde há uma
maior infraestrutura e maior oportunidade de emprego. É o caso de Jhenyffer de
Araujo, 28 anos, transexual, que se encontra em situação de rua há dois anos.
Jhenyffer morava em uma favela na periferia de São Paulo, até que sua casa
pegou fogo e não teve outra opção além de morar na rua e esperar pela ajuda do governo,
que não chegou até hoje. Mas ela não perde a esperança “Era para eu receber
ajuda do governo por três meses mas só recebi um. Me prometeram um apartamento Cingapura
na Vila do Remédio em Osasco em 2012; já se passaram muitos anos desde então e
diz que tá para sair esse ano. Assim que sair, eu posso sair da rua.”
Jhennyfer e sua amiga Bruna, 27 anos,
reclamam da dificuldade para conseguir comida, usar o banheiro e também do
preconceito que sofrem. “Tem muita dificuldade na rua, tem muito preconceito na
rua, aliás, na sociedade, né. Por você ser gorda, por você ser magra, branca,
negra, trans então nem se fala”, declarou Jhennyfer. Bruna vive na rua há oito
anos e diz se encontrar nesta situação por opção, já que o marido não gosta de
ficar em casa, “eu fico na rua quando eu quero, tem albergues, tem tudo... mas
quando eu estou é por causa do meu marido que já está na rua há muito tempo,(...)
por mim eu tava dentro de casa, mas fui me interessar por ele... é complicado”.
Ambas frequentaram a Cracolândia e agora recebem ajuda do SPES. Dizem que a
região próxima ao metrô de Santa Cecília é um lugar mais seguro, “Um ajuda o
outro, como se fosse uma família. A vida na Cracolândia era mais difícil”, diz
Bruna. Pedro de Souza, 20 anos, convive
com elas e cerca de mais 7 pessoas em frente à Paróquia de Santa Cecília. Pedro
está na rua há um ano, “Eu saí da cadeia, não tinha para onde ir, passei pela
Cracolândia e vim parar aqui”.
Foto por Maria Clara Pereira
Alguns moradores de rua passam até a
se juntar a movimentos sociais como a FLM (Frente de Luta Por Moradia) e a MSTC
(Movimento Sem Teto do Centro), ou recorrem a centros de acolhida como o Centro
de Acolhida de Santa Cecília, onde recebem acesso
à capacitação profissional e conhecimento do mundo do trabalho por meio de
cursos de qualificação profissional e desenvolvem habilidades com vista à
conquista de empregabilidade, autonomia, inserção social e participação na vida
pública e da comunidade.
Muitos criam raízes com a vida na rua, com as pessoas com
quem convivem ali e realmente não desejam sair dessa situação. Buscam por ajuda
para se alimentar, vestir e até trabalhar, mas não querem mais sair da rua, a
casa deles é a céu aberto agora.
Foto por Maria Clara Pereira
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