“O preconceito era muito grande, achavam
que eu era prostituta ou lésbica, era muito difícil achar um namorado”
Por Danielle Romanelli e Maria Clara Pereira
Em 1946, uma ex pilota da Segunda Guerra
Mundial, Beate Uhse, trouxe para o mundo o mercado erótico, inaugurando a
primeira sex shop.
Após o fim da Guerra, Beate foi proibida de
voar, então com a intenção de ocupar seu tempo iniciou as vendas de produtos
eróticos de porta em porta. Logo em seguida escreveu um livreto de muito
sucesso, chamado Pamphlet X, no qual ensinava as mulheres sobre seus ciclos
menstruais e períodos férteis. Com o sucesso de seu livro e produtos, Beate
iniciou as vendas de camisinhas e criou guias de casamento. Das vendas de porta
em porta, passou ao envio postal e assim criou sua primeira loja.
Assim a procura pelos produtos eróticos e as
propagandas foram crescendo, e novos modelos de marcas e produtos surgindo.
Desde as vendas de porta em porta de Beate até os dias de hoje, o mercado
erótico foi crescendo e ganhando seu lugar, hoje o setor sensual e erótico
brasileiro já tem destaque no cenário mundial, somando 11 mil empresas no país.
O mercado erótico
O mercado erótico é um ramo da economia que
vem sofrendo alterações constantemente. O mundo está se abrindo cada vez mais
para receber esse tipo de comércio e produtos, abandonando sua associação à
pornografia para entrar em um mundo de prazer, conhecimento e inovação nas
relações entre casais.
O Brasil possui um grande destaque nesse
meio. Por ano o país comercializa 9 milhões de itens e ainda se tornou
referência mundial em lingerie. A população brasileira vem consumindo cada vez
mais esse tipo de mercadoria, principalmente o público feminino, que hoje se
tornou 68% dos consumidores, 33% sendo só na cidade de São Paulo.
“Existe um perfil meio que pré-definido,
cerca de 60 ou 70% são mulheres, aos finais de semana muitos casais héteros e
gays. A fatia LGBT é importante pra loja hoje, cerca de 20% dos que consomem na
loja são gays.” disse Carolina Assunção, 34 anos, dona da loja Lovetoys Erotic
Boutique, localizada na esquina da Oscar Freire com a Augusta.
Foto por Maria Clara Pereira
Foto por Maria Clara Pereira
Segundo a
Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME), 90%
dos estabelecimentos registrados são micro e pequenas empresas. A soma dessas
gera por ano 1 bilhão de reais.
Atualmente, os
casais têm aderido muito ao mercado, se tornando um dos perfis mais comuns nas
lojas. Eles buscam pelos produtos para saírem da sua rotina sexual e estarem
sempre cheios de novidades na cama. Esse interesse em buscar por coisas novas
na hora do sexo foi mais visível após o lançamento dos livros 50 Tons de Cinza,
em 2011, e do filme, em 2015. A sex shop virtual “Loja do Prazer” calculou um
crescimento médio de 35% nas vendas de produtos eróticos da vertente
sadomasoquista. Segundo Carolina, “Algema, chicote, chibata, venda… a
curiosidade das bolinhas de pompoar aumentou bastante. Então em determinados produtos
a gente viu uma abertura maior mesmo, a própria curiosidade de conhecer esse
universo.”.
Antes mesmo de
lançar 50 Tons de Cinza, o filme De Pernas Pro Ar, de 2011, já havia
conquistado o público brasileiro e aberto os olhos desses para o mercado erótico,
principalmente do lado feminino voltado para a linha de sextoys. Tais produtos
estão entre os mais vendidos e procurados nos sex shops, como os géis, cremes e
lubrificantes, que cada vez mais tem suas variedades aumentadas. E em segundo
lugar temos os sextoys, que são os vibradores, os quais estão começando a
ganhar seu lugar na cama entre os casais.
Foto por Maria Clara Pereira
Foto por Maria Clara Pereira
Os sex shops
brasileiros também vêm trazendo os clientes para dentro da loja, não apenas os
produtos para a casa de seus clientes. Estão surgindo, as famosas cabines de
Peep Show, quais geralmente são uma área, formada por várias mini cabines que
servem para a interação sexual entre diferentes pessoas: casais, desconhecidos
ou até para a prática das relações de Swing. A dona da loja Sex Mundi,
localizada na Rua Amaral Gurgel, Ruth Miranda, 42 anos, diz que seus clientes
buscam cada vez mais pelas cabines, tanto os héteros quanto os homossexuais.
O tabu dos sex shops
Sabe-se que apesar de toda a
mudança na cabeça das pessoas ainda existe tabu em cima do universo erótico,
que é associado à pornografia e à ousadia. Muitas pessoas possuem certo receio
de entrar em um sex shop, de comprar um produto erótico, experimentar esse tipo
de produto, entre outras coisas. De acordo com a ABEME, 83% da população
brasileira nunca experimentou um produto erótico.
Carolina concorda que ainda há
esse tabu, vergonha, aversão e até um pânico a esse mundo. Disse que há
clientes que hesitam ao entrar na loja e principalmente ao sair. Ficam
preocupados com a embalagem e como é a sacola. A empreendedora também conta
que, devido a esse desconforto com o sex shop, sua loja possui uma dinâmica
diferente: “A proposta na loja é bem diferente, o conceito da Lovetoys hoje é
justamente proporcionar o conforto assim, o conforto psicológico da mulher, das
pessoas entrarem e navegarem tranquilamente pela loja. Então tem os primeiros 5
minutos de ambientação, de respirar, olhar tudo, não querer falar com ninguém e
depois respiram tranquilas, se sentem bem à vontade na loja.”.
E a vergonha não está só para
quem está do lado de dentro da loja, mas, também, para quem vê de fora. As
pessoas costumam achar cômico quem frequenta essas lojas e olham a pessoa
diferente, fazem comentários e veem sempre certa ousadia em quem está visitando
o local.
Com a influência da mídia, o
mercado erótico está em alta e os vendedores desse setor acreditam que esse
crescimento tende a continuar, devido à diminuição dos tabus e preconceitos
para com a sexualidade em si. “Para quem começou há 20 anos, o preconceito era
muito grande, achavam que eu era prostituta ou até lésbica, era muito difícil
achar um namorado. Mas hoje não, as pessoas entram na loja com menos receio e
enxergam o mercado erótico como algo mais comum.”, disse Ruth.
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