quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O erótico saiu do armário

  “O preconceito era muito grande, achavam que eu era prostituta ou lésbica, era muito difícil achar um namorado”

Por Danielle Romanelli e Maria Clara Pereira

Em 1946, uma ex pilota da Segunda Guerra Mundial, Beate Uhse, trouxe para o mundo o mercado erótico, inaugurando a primeira sex shop.
Após o fim da Guerra, Beate foi proibida de voar, então com a intenção de ocupar seu tempo iniciou as vendas de produtos eróticos de porta em porta. Logo em seguida escreveu um livreto de muito sucesso, chamado Pamphlet X, no qual ensinava as mulheres sobre seus ciclos menstruais e períodos férteis. Com o sucesso de seu livro e produtos, Beate iniciou as vendas de camisinhas e criou guias de casamento. Das vendas de porta em porta, passou ao envio postal e assim criou sua primeira loja.
Assim a procura pelos produtos eróticos e as propagandas foram crescendo, e novos modelos de marcas e produtos surgindo. Desde as vendas de porta em porta de Beate até os dias de hoje, o mercado erótico foi crescendo e ganhando seu lugar, hoje o setor sensual e erótico brasileiro já tem destaque no cenário mundial, somando 11 mil empresas no país.

          O mercado erótico

O mercado erótico é um ramo da economia que vem sofrendo alterações constantemente. O mundo está se abrindo cada vez mais para receber esse tipo de comércio e produtos, abandonando sua associação à pornografia para entrar em um mundo de prazer, conhecimento e inovação nas relações entre casais.
O Brasil possui um grande destaque nesse meio. Por ano o país comercializa 9 milhões de itens e ainda se tornou referência mundial em lingerie. A população brasileira vem consumindo cada vez mais esse tipo de mercadoria, principalmente o público feminino, que hoje se tornou 68% dos consumidores, 33% sendo só na cidade de São Paulo.
“Existe um perfil meio que pré-definido, cerca de 60 ou 70% são mulheres, aos finais de semana muitos casais héteros e gays. A fatia LGBT é importante pra loja hoje, cerca de 20% dos que consomem na loja são gays.” disse Carolina Assunção, 34 anos, dona da loja Lovetoys Erotic Boutique, localizada na esquina da Oscar Freire com a Augusta.

                                    Foto por Maria Clara Pereira

Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME), 90% dos estabelecimentos registrados são micro e pequenas empresas. A soma dessas gera por ano 1 bilhão de reais.
Atualmente, os casais têm aderido muito ao mercado, se tornando um dos perfis mais comuns nas lojas. Eles buscam pelos produtos para saírem da sua rotina sexual e estarem sempre cheios de novidades na cama. Esse interesse em buscar por coisas novas na hora do sexo foi mais visível após o lançamento dos livros 50 Tons de Cinza, em 2011, e do filme, em 2015. A sex shop virtual “Loja do Prazer” calculou um crescimento médio de 35% nas vendas de produtos eróticos da vertente sadomasoquista. Segundo Carolina, “Algema, chicote, chibata, venda… a curiosidade das bolinhas de pompoar aumentou bastante. Então em determinados produtos a gente viu uma abertura maior mesmo, a própria curiosidade de conhecer esse universo.”.
Antes mesmo de lançar 50 Tons de Cinza, o filme De Pernas Pro Ar, de 2011, já havia conquistado o público brasileiro e aberto os olhos desses para o mercado erótico, principalmente do lado feminino voltado para a linha de sextoys. Tais produtos estão entre os mais vendidos e procurados nos sex shops, como os géis, cremes e lubrificantes, que cada vez mais tem suas variedades aumentadas. E em segundo lugar temos os sextoys, que são os vibradores, os quais estão começando a ganhar seu lugar na cama entre os casais.

                                   Foto por Maria Clara Pereira

Os sex shops brasileiros também vêm trazendo os clientes para dentro da loja, não apenas os produtos para a casa de seus clientes. Estão surgindo, as famosas cabines de Peep Show, quais geralmente são uma área, formada por várias mini cabines que servem para a interação sexual entre diferentes pessoas: casais, desconhecidos ou até para a prática das relações de Swing. A dona da loja Sex Mundi, localizada na Rua Amaral Gurgel, Ruth Miranda, 42 anos, diz que seus clientes buscam cada vez mais pelas cabines, tanto os héteros quanto os homossexuais.

             O tabu dos sex shops

Sabe-se que apesar de toda a mudança na cabeça das pessoas ainda existe tabu em cima do universo erótico, que é associado à pornografia e à ousadia. Muitas pessoas possuem certo receio de entrar em um sex shop, de comprar um produto erótico, experimentar esse tipo de produto, entre outras coisas. De acordo com a ABEME, 83% da população brasileira nunca experimentou um produto erótico.
Carolina concorda que ainda há esse tabu, vergonha, aversão e até um pânico a esse mundo. Disse que há clientes que hesitam ao entrar na loja e principalmente ao sair. Ficam preocupados com a embalagem e como é a sacola. A empreendedora também conta que, devido a esse desconforto com o sex shop, sua loja possui uma dinâmica diferente: “A proposta na loja é bem diferente, o conceito da Lovetoys hoje é justamente proporcionar o conforto assim, o conforto psicológico da mulher, das pessoas entrarem e navegarem tranquilamente pela loja. Então tem os primeiros 5 minutos de ambientação, de respirar, olhar tudo, não querer falar com ninguém e depois respiram tranquilas, se sentem bem à vontade na loja.”.
E a vergonha não está só para quem está do lado de dentro da loja, mas, também, para quem vê de fora. As pessoas costumam achar cômico quem frequenta essas lojas e olham a pessoa diferente, fazem comentários e veem sempre certa ousadia em quem está visitando o local.
Com a influência da mídia, o mercado erótico está em alta e os vendedores desse setor acreditam que esse crescimento tende a continuar, devido à diminuição dos tabus e preconceitos para com a sexualidade em si. “Para quem começou há 20 anos, o preconceito era muito grande, achavam que eu era prostituta ou até lésbica, era muito difícil achar um namorado. Mas hoje não, as pessoas entram na loja com menos receio e enxergam o mercado erótico como algo mais comum.”, disse Ruth.

Nenhum comentário:

Postar um comentário