segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Elas nos trilhos

Quem são e como é a rotina das mulheres que conduzem os trens do metrô de São Paulo


Por Larissa Martin e Maria Clara Pereira

Sheila Sordi, 28 anos, usa óculos de grau por cima dos olhos castanhos, tem cabelo na altura dos ombros, está sempre sorrindo, é mãe do Fernando Sordi, 9 anos, e operadora de trem no metrô de São Paulo nos trechos Vila Prudente e Vila Madalena da linha 2-verde. Fazia faculdade de arquitetura, porém não terminou e nunca trabalhou na área. Começou o emprego no Metrô devido ao seu interesse pela área, já que seu marido é agente de segurança na estação. Sheila gosta muito do que faz atualmente. Em sua casa, moram ela, o filho e o esposo, Marcelo Otávio da Silva, 35 anos. A família possui uma rotina diferente da comum: tomam café e almoçam juntos, após o almoço o filho vai para a aula e os pais vão juntos ao trabalho, os quais voltam cedo no outro dia e a criança fica com a irmã de Sheila para que consigam conciliar os horários de trabalho.
Sheila trabalha no Metrô paulistano há seis anos e como operadora de trem há dois. Enquanto conta de seu cargo, sorri feliz, confiante: “Tenho orgulho da profissão, pois interajo diariamente com o dia a dia da cidade, transportando seus moradores, trabalhadores e turistas”. Quando entrou na empresa, trabalhou três anos realizando atividades gerais (cargo chamado de "quatro horas" na empresa) e depois desse tempo prestou um concurso interno e conseguiu ser promovida, assumindo o cargo de condutora de trens em período integral de segunda a sexta-feira.
Cynthia Macedo, 30 anos, é loira, usa uma bandana vermelha no cabelo, brincos grandes de argola e seu batom vermelho é bem destacado. Também é operadora de trem. Formou-se em publicidade e propaganda, mas nunca exerceu a profissão. Desde o primeiro ano da faculdade trabalha no Metrô. Como não estava conseguindo estágio na área em que estudava e tinha amigos na empresa, resolveu prestar o concurso e passou. Trabalhou durante seis anos na estação República, até que decidiu prestar o concurso interno e se promover a condutora de trens na linha verde.
Enquanto trabalhava como “quatro horas”, Cynthia fazia de tudo na estação. Ela conta que uma vez chegou até a presenciar um parto na estação República: “Minha amiga que trabalha na segurança que fez o parto”. Sua atual função também implica diversas responsabilidades como manutenção dos trens, levá-los para seus respectivos blocos, sanar falhas, inspecioná-los e prepará-los para que sejam limpos e aptos a serem utilizados.
Cynthia mora com os pais e está há nove anos no Metrô, sendo três desses como condutora de trens. Os pais são metalúrgicos aposentados e sempre a incentivaram a trabalhar na empresa. “Todas as apostilas que eu recebi de treinamento meu pai lia e estudava comigo”, conta. Assim como o marido de Sheila, o namorado de Cynthia também trabalha no Metrô. Ela afirma que a profissão exige muita atenção o tempo todo: alguém que passa mal no vagão e precisa que pare o trem, alguém que precisa de mais tempo para embarcar devido a pouca mobilidade do indivíduo e tem de manter as portas abertas, os embriagados em datas comemorativas, os SMS denúncia que são repassados para o condutor, entre outros. “Já pediram minha ajuda algumas vezes pelo vidro da cabine”, completou.


Hoje em dia, são dezenas de mulheres que operam trens e metrôs e destacam-se no cargo. Ao contrário de antigamente, quando muitos usuários (inclusive do sexo feminino) sentiam certo preconceito em serem conduzidos por mulheres e achavam que uma mulher não seria capaz de exercer tais atividades, consideradas para “macho”. E elas provam diariamente a todos o contrário. Sheila conta que o preconceito hoje em dia está mais vedado: “O usuário preconceituoso quando vê que é uma mulher pilotando, apenas disfarça e não entra no carro”.  Cynthia acrescenta: “Sempre tem alguém que pergunta se sou eu que vou levar o trem”.
Nos últimos 50 anos, as mulheres têm ganhado força total quando o assunto é mercado de trabalho e os avanços das leis trabalhistas permitiram tal crescimento dessa mão de obra. Em 2007, as mulheres representavam 40,8% do mercado formal de trabalho, já em 2016, passaram a ocupar 44% das vagas. O desemprego causado pela atual crise do Brasil afetou menos as mulheres nos últimos 5 anos do que os homens, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), entre 2012 e 2016, o total de homens empregados sofreu redução de 6,4% contra 3,5% das mulheres. A renda das trabalhadoras também está ganhando destaque no cenário atual: 40% dos lares familiares possuem uma mulher liderando a renda da família. 
No metrô, antigamente somente homens conduziam os trens, até que, em 1986, houve votações internas para decidir se as mulheres também teriam direito de exercer a profissão. A empresa colocou inicialmente 20 mulheres num treinamento de 6 meses, o qual diria se elas estariam aptas ao cargo. Dessas 20, três conquistaram o cargo e passaram a ser as primeiras operadoras do metrô paulistano e do mundo. Hoje, em São Paulo, são 189 mulheres operadoras de trens, representando 18% dos profissionais. Em Salvador, esse dado chega a 20%, maior porcentagem de operadoras do país.
Logo após essa grande conquista, foram admitidas, em 1989, mulheres na operação de ônibus e guinchos na ex-CMTC, empresa municipal que operava ônibus na cidade de São Paulo. Depois disso, vieram as agentes de trânsito da CET e a partir daí não pararam mais. Essas conquistas todas das mulheres resultaram também na queda do índice de reclamações das empresas pela metade, além da redução de acidentes recorrentes de trânsito e de trens.

Sheila e Cynthia pretendem continuar suas carreiras no metrô, pois enxergam a oportunidade de conduzir trens como um avanço. Elas garantem que o local é muito bom para trabalhar e que a equipe é unida e os colegas são extremamente prestativos. Uma equipe predominantemente masculina, porém, isso não as abala, pois mesmo elas sendo a pequena porcentagem feminina sabem de seus potenciais e garantem: a mulher tem a mesma capacidade de realizar tais atividades e se orgulham disso. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Inimigo invisível

Cada vez mais jovens recorrem a medicamentos contra transtornos psicológicos

Por Maria Clara Pereira e Mariana Camargo

     A sociedade contemporânea vive sob a exigência de se alcançar o modelo ideal o mais rápido possível. Porém, a busca incessante pelo padrão de beleza e inteligência podem trazer sérias consequências, como o desenvolvimento de transtornos psicológicos, o que leva muitos jovens a recorrer a remédios psicotrópicos para controlar tais doenças. Segundo o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), de 2009 a 2014 houve um aumento de 161% no fornecimento de medicamentos controlados no país.

Os sintomas

     Segundo pesquisa realizada em 2016 pelo ERICA (Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes), um em cada três dos adolescentes brasileiros sofre de transtornos mentais comuns (TMC), caracterizados por tristeza frequente, dificuldade para se concentrar ou para dormir, falta de disposição para tarefas do dia a dia, entre outros sintomas. Quando não tratados, esses podem evoluir para distúrbios mais sérios, como a depressão.
     A adolescência é marcada por excesso de transformações, associado a isso as pressões impostas pela sociedade (padrão de beleza, notas boas, escolha de uma profissão), e até mesmo pelos pais, pode desencadear na manifestação de diagnósticos de transtornos mentais. A psicóloga Bruna Garcia, 27 anos, concorda “é a associação de vários fatores que propiciam o desenvolvimento de um transtorno mental, e os padrões impostos pela sociedade fazem parte do ambiente em que vivemos, portanto é uma fonte de influência de peso significativo, principalmente para os adolescentes”.

O aumento no consumo

    Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, a quantidade de usuários de medicamentos psicotrópicos em São Paulo teve um aumento de 47% entre 2010 e 2014. O estudante de ciências políticas Fernando Bernardo Júnior, 20 anos, fez uso de medicamentos durante cinco meses após ser diagnosticado com depressão e tendência suicida em 2011, mas diz que se sentiu melhor depois que voltou a ser atleta e parou de se medicar, “além de fortes efeitos colaterais (insônia, tontura, tremedeira, falta de apetite), a pior sensação era a de apatia a qual o remédio me induzia”.
     A alta no uso de tais medicamentos reflete maior conhecimento da doença e aumento de diagnósticos, mas também levanta o alerta de uso indevido desses, até por pessoas saudáveis que buscam aumentar o rendimento em atividades intelectuais. “O risco é a farmacodependência, além de efeitos colaterais como alteração do ritmo do sono, comprometimento da cognição, humor e pensamento prejudicados. O psiquiatra deve ser consultado para orientar tais medidas” afirma o psiquiatra Antônio Tornich.

O papel da família

     A estudante de ensino médio AP, 17 anos, pensa que “a falta de comunicação com os pais, a falta de liberdade, atrapalha muito”, quando na verdade o papel da família é totalmente o oposto ao lidar com um adolescente, seja ele doente ou não. “Para a família perceber se algo está acontecendo é essencial ter o diálogo. É estar junto, orientar e, a qualquer indício de que algo não esteja bem, buscar um auxílio profissional” acrescenta a psicóloga. 
     Muitas vezes família e amigos do paciente se negam a aceitar sua condição e dizem que é apenas para chamar atenção. Fernando afirma que “isso afeta negativamente aqueles que sofrem com esses problemas. Quando se é atacado dessa forma fica ainda mais difícil combater aquilo que te derruba”. Para combater esse tipo de opinião, Bruna recomenda a conscientização: “Quanto mais informações as pessoas obtiverem, elas terão mais discernimento, compreensão e entendimento, e assim, conseguirão desconstruir cada vez mais a imagem que lhes foi passada”.
     Deve-se lembrar que esses sintomas não devem ser ignorados e em hipótese alguma o paciente deve se automedicar. Os transtornos psicológicos devem ser tratados com auxílio de profissionais da área, os quais têm competência para conduzir um tratamento de maneira adequada, seja com sessões de terapia ou medicação correta. Só assim o paciente pode apresentar melhoras, sem correr risco de prejudicar sua própria saúde.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Diga não ao abuso

Número de mulheres que sofrem violência sexual em ambiente universitário é alarmante

Por Maria Clara Pereira e Mariana Camargo

Segundo pesquisa realizada em 2015 pelo Data Popular, 67% das alunas universitárias já sofreram algum tipo de violência no ambiente universitário, 28% foram vítimas de violência sexual, e 27% dos meninos não consideram violência tentar abusar da garota se ela estiver sob efeito de álcool. 73% dos estudantes conhecem casos de alunas que já foram abusadas, o ambiente universitário estimula a estrutura patriarcal ao manter a tradição de que calouros devem obedecer e servir aos veteranos, ao cultivarem a cultura de cantar músicas ofensivas nos jogos universitários, ao ter professores homens em sua maioria, ao não dar voz às garotas, ao não apresentarem nenhuma resolução para tais problemas, mesmo sendo direito dos alunos recorrer à universidade.

Coletivos

É nesse contexto em que os coletivos feministas universitários ganham força. Diante de tantos relatos e nenhuma atitude tomada, as garotas resolveram se organizar para darem apoio umas as outras e conscientizarem as pessoas de que o corpo da mulher não é objeto de uso público. Na Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT) o coletivo existe há dois anos promovendo rodas de conversas para ajudar e orientar as estudantes, produzindo cartilhas de conscientização (sobre a Lei Maria da Penha, por exemplo), e contam também com a assistência de uma psicóloga e uma assistente social fornecidas pela Secretaria de Políticas Públicas Municipal.  
A aluna de medicina Julia Kalil, 19 anos, faz parte do coletivo da FMIT, e, segundo ela, a falta de atitude da faculdade faz com que até mesmo as meninas que não se consideram feministas acabem recorrendo ao coletivo em momentos de necessidade. Segundo os dados do Data Popular, 88% dos alunos e 95% das alunas compartilham da opinião de que a universidade deveria criar meios de punir os responsáveis por cometer violência contra mulheres na instituição. Julia acrescenta que o problema maior se dá por ser difícil mudar uma construção social já existente, mas que aos poucos mudanças são conquistadas. “De uma maneira geral, a gente têm conseguido avançar. A própria existência do coletivo já faz com que as meninas tenham mais coragem de se posicionar”.

Vítima

Após uma festa em uma república estudantil de Ouro Preto, Letícia Guisard, 20 anos, aluna de arquitetura na época, relata ter sido abusada por um veterano quando ainda era caloura. “Foi horrível, nunca pensei que alguém ia passar a mão em todas as partes do meu corpo sem eu querer. Essa é a pior situação: você não quer aquilo, você não está confortável com aquilo e a pessoa fica te forçando.” Mesmo após anos, Letícia diz que nunca teve coragem de contar para as amigas que moravam com ela o que aconteceu por não se sentir segura e ter medo do que poderia enfrentar, já que o ambiente na cidade é muito hierarquizado e machista.

                              Foto por Mariana Camargo

Que medidas tomar?

 A orientação é que se adote medidas legais independente do tipo de abuso sofrido, seja ele físico ou psicológico. A advogada Ana Paula Braga, 25 anos, recomenda que a vítima se dirija o quanto antes para uma delegacia de polícia (preferencialmente da mulher) e registre o boletim de ocorrência, pois somente com este ela poderá ser encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML) para realizar os exames de corpo de delito e toxicológico. “São estas as provas que terão mais força na hora de condenar o agressor, e elas tendem a desaparecer muito rápido.” Embora a violência ocorra fora do campus, é de responsabilidade da instituição zelar por seus estudantes, as medidas variam se esta é pública ou particular.
Por ser uma forma de abuso tão naturalizada, as mulheres demoram a se dar conta da violência que sofreram, chegando até a aceitarem isso como consequência de seu abuso do álcool e/ou drogas, 42%das mulheres já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário. Não são raras as vezes em que o agressor é próximo à vítima, podendo ser seu namorado, amigo ou até mesmo professor e usar de sua hierarquia para ameaçar a vítima caso esta queira puni-lo. “A rigor, uma passada de mão não consentida, um beijo forçado ou qualquer outro ato que envolva intimidade e teor sexual é considerado estupro”, segundo Ana Paula, e deve ser denunciado.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Experiência Alice: onde a magia sobressai

A mostra interativa homenageia os 150 anos da obra de Lewis Carroll

Por Larissa Martin e Maria Clara Pereira

Apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Brasilprev, a expo­sição, que está acontecendo desde o dia seis de outubro no Shopping JK Iguatemi, conta com diversos ambientes, onde, em cada um, há algo para se interagir e fazer com que nos sintamos na história para comemorar os 150 anos da obra de Lewis Carroll.
Alice no País das Maravilhas, é a obra infantil mais conhecida de Charles Lutwidge Dodgson, publi­cada em 4 de Julho de 1865 sob o pseudônimo de Lewis Carroll e também foi o 13˚ longa-metragem da Disney (1951). A história é so­bre uma garotinha, Alice, que em seu quintal persegue o Coelho Branco até sua toca. A partir daí, a história fica emocionante e a me­nina que cai no País das Maravi­lhas inicia uma grande aventura encontrando diversas criaturas e fazendo amigos um tanto quanto peculiares. O clássico da Disney ganhou também, em 2010, uma versão de Tim Burton baseado no livro e no filme de 1951, contando em seu elenco com grandes nomes do cinema, como Johnny Depp e Anne Hathaway.

                                 Foto por Larissa Martin

       É a primeira vez que essa ex­posição é realizada no Brasil e cada detalhe foi feito exclusiva­mente, com direito até a dese­nhos feitos à mão nas paredes do primeiro ambiente. A magia so­bressai, o espaço de 800m come­ça com uma sala com um labirin­to de livros inéditos sobre uma das personagens mais ilustradas no mundo, e termina com uma última sala feita especialmente em homenagem ao filme de Tim Burton, onde simula uma mesa de chá da tarde com os persona­gens principais do longa.
Escorregue pela toca do Coe­lho Branco e veja poltronas, me­sas e quadros passarem por você, caia, literalmente, em um mundo novo; tome um chá sentado na cadeira da Alice com o Chapelei­ro Maluco; fique confuso com os gêmeos Tweedledum e Tweedle­dee. Feita para ser vivenciada e não somente assistida, a exposi­ção é extremamente interessan­te, com pequenos detalhes que chamam muito a atenção, apesar de ser muito curta (dura em mé­dia 25 minutos). Os 15 ambientes mesclam muito bem o clássico com experiências tecnológicas, desde jogos de luzes para achar o Gato de Cheshire a espelhos que exploram a ilusão de ótica, fazen­do com que o expectador se en­xergue como gigante ou anão, e ro­sas que, ao serem tocadas, mudam de cor. Você se sente realmente no País das Maravilhas.

               Foto por Maria Clara Pereira

Renato Zacarias, 26 anos, diz ser um grande fã da história de Alice, e que adorou a exposição, achou criativa a forma com que criaram os ambientes. “Assim que entrei, vi um capricho muito gran­de na exposição, muito criativa a forma que eles apresentaram a história da Alice. Dividir a expo­sição em capítulos é muito legal e apesar de ser curtinha, valeu a pena”. A experiência, que vai du­rar até 30 de novembro, é pioneira e exclusiva, e não possui informa­ções se irá ser exposta novamente ou em outro local do Brasil.

O preço do ingresso é de R$ 35,00 (valor inteiro) e crianças até dois anos não pagam, já de 2 a 12 anos pagam ingresso com valor de meia entrada, assim como es­tudantes, e parte da arrecadação será destinada aos projetos sociais da ONG Orientavida. Os horários são de segunda a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 11h às 19h. A classificação é livre e pessoas de todas as idades se di­vertem nos ambientes, podendo também tirar fotos, que são per­mitidas durante todo o percurso.

O Parque Augusta resiste

Com cerca de 24 mil metros quadrados, refúgio da selva de pedra permanece fechado

Por Larissa Martin e Maria Clara Pereira

Em 1907, o antigo palacete de Fabio Uchoa foi vendido para cônegas de Santo Agostinho e transformado no Colégio Des Oiseaux, tradicional colégio feminino de São Paulo, o qual teve suas atividades encerradas em 1969. 
De acordo com o Ministério Público do Estado de São Paulo, o bosque existente no terreno faz parte da Mata Atlântica e foi tombado pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), em dezembro de 2004. Em 2006, o ex-banqueiro e incorporador Armando Conde adquiriu o terreno, porém no mesmo ano, começou a correr o projeto de lei 345/2006 na Câmara Municipal de São Paulo, que propunha a criação do Parque Augusta em toda a extensão do terreno. Após diversas pressões de ativistas e defensores do parque, tal PL foi aprovado pelo prefeito Fernando Haddad em 2013.
Entretanto, em janeiro de 2015, o CONPRESP aprovou a construção de prédios no parque, contrariando a lei 15.941 aprovada dois anos antes. Diante de total abandono, mesmo com a aprovação da lei, os ativistas ocuparam e limparam o terreno, abrindo-o ao público paulistano, oferecendo várias atividades gratuitas envolvendo musicais e brincadeiras contra a reintegração de posse do terreno, marcada para o dia 4 de março de 2015, com força policial.
No dia 30 de abril de 2016, o Ministério Público do Estado de São Paulo decidiu que o parque deveria ser reaberto à população. Porém, este continuou fechado devido ao impasse entre as construtoras e a prefeitura. Em 22 de agosto deste ano, houve uma audiência na qual a prefeitura ofereceu R$100 milhões pelo terreno, mas as construtoras Cyrela e Setin foram irredutíveis.
Há décadas, portanto, diferentes interesses colidem, transitando entre o público e o privado. Contudo, as construtoras são proprietárias do terreno, mas não podem fazer melhorias na infraestrutura, segurança e melhoramentos, pois aguardam a autorização dos órgãos públicos, e a prefeitura alega não ter dinheiro para comprar o terreno e realizar as reformas necessárias.

                          Foto por Larissa Martin

Como consequência das invasões, a área vem sofrendo com depredações e pichações, o que compromete a preservação do espaço. O projeto das construtoras é construir um shopping e um hotel, mantendo a região do bosque, tombada pelo CONPRESP, e, por determinação da matrícula do terreno, deverá ser aberto ao público, independente dos condôminos que residirem lá.
Para a população da região que assiste ao impasse há anos é difícil decidir se seria melhor o terreno nas mãos das construtoras, ou nas da prefeitura. Dona Zilda Pontes, 80 anos, reside em frente ao terreno há sete anos e teme que, sob a posse da prefeitura, o terreno seja abandonado e vire “um antro de drogas”. Quanto à hipótese de as construtoras permanecerem como proprietárias, Zilda afirma que para ela “um prédio a mais, um prédio a menos tanto faz. A parte do bosque é que eu quero que cuide, e que nós, como cidadãos, possamos usá-lo”.

                           Foto por Maria Clara Pereira

Se reaberto, será mais uma área de lazer, convívio e entretenimento gratuito à população local. Nos últimos 10 anos, os ativistas tornaram a área um símbolo. O parque permanece fechado, mas a persistência em cima do processo continua, e não irá cessar enquanto não se obter respostas claras sobre o que será feito em relação ao parque.

O erótico saiu do armário

  “O preconceito era muito grande, achavam que eu era prostituta ou lésbica, era muito difícil achar um namorado”

Por Danielle Romanelli e Maria Clara Pereira

Em 1946, uma ex pilota da Segunda Guerra Mundial, Beate Uhse, trouxe para o mundo o mercado erótico, inaugurando a primeira sex shop.
Após o fim da Guerra, Beate foi proibida de voar, então com a intenção de ocupar seu tempo iniciou as vendas de produtos eróticos de porta em porta. Logo em seguida escreveu um livreto de muito sucesso, chamado Pamphlet X, no qual ensinava as mulheres sobre seus ciclos menstruais e períodos férteis. Com o sucesso de seu livro e produtos, Beate iniciou as vendas de camisinhas e criou guias de casamento. Das vendas de porta em porta, passou ao envio postal e assim criou sua primeira loja.
Assim a procura pelos produtos eróticos e as propagandas foram crescendo, e novos modelos de marcas e produtos surgindo. Desde as vendas de porta em porta de Beate até os dias de hoje, o mercado erótico foi crescendo e ganhando seu lugar, hoje o setor sensual e erótico brasileiro já tem destaque no cenário mundial, somando 11 mil empresas no país.

          O mercado erótico

O mercado erótico é um ramo da economia que vem sofrendo alterações constantemente. O mundo está se abrindo cada vez mais para receber esse tipo de comércio e produtos, abandonando sua associação à pornografia para entrar em um mundo de prazer, conhecimento e inovação nas relações entre casais.
O Brasil possui um grande destaque nesse meio. Por ano o país comercializa 9 milhões de itens e ainda se tornou referência mundial em lingerie. A população brasileira vem consumindo cada vez mais esse tipo de mercadoria, principalmente o público feminino, que hoje se tornou 68% dos consumidores, 33% sendo só na cidade de São Paulo.
“Existe um perfil meio que pré-definido, cerca de 60 ou 70% são mulheres, aos finais de semana muitos casais héteros e gays. A fatia LGBT é importante pra loja hoje, cerca de 20% dos que consomem na loja são gays.” disse Carolina Assunção, 34 anos, dona da loja Lovetoys Erotic Boutique, localizada na esquina da Oscar Freire com a Augusta.

                                    Foto por Maria Clara Pereira

Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME), 90% dos estabelecimentos registrados são micro e pequenas empresas. A soma dessas gera por ano 1 bilhão de reais.
Atualmente, os casais têm aderido muito ao mercado, se tornando um dos perfis mais comuns nas lojas. Eles buscam pelos produtos para saírem da sua rotina sexual e estarem sempre cheios de novidades na cama. Esse interesse em buscar por coisas novas na hora do sexo foi mais visível após o lançamento dos livros 50 Tons de Cinza, em 2011, e do filme, em 2015. A sex shop virtual “Loja do Prazer” calculou um crescimento médio de 35% nas vendas de produtos eróticos da vertente sadomasoquista. Segundo Carolina, “Algema, chicote, chibata, venda… a curiosidade das bolinhas de pompoar aumentou bastante. Então em determinados produtos a gente viu uma abertura maior mesmo, a própria curiosidade de conhecer esse universo.”.
Antes mesmo de lançar 50 Tons de Cinza, o filme De Pernas Pro Ar, de 2011, já havia conquistado o público brasileiro e aberto os olhos desses para o mercado erótico, principalmente do lado feminino voltado para a linha de sextoys. Tais produtos estão entre os mais vendidos e procurados nos sex shops, como os géis, cremes e lubrificantes, que cada vez mais tem suas variedades aumentadas. E em segundo lugar temos os sextoys, que são os vibradores, os quais estão começando a ganhar seu lugar na cama entre os casais.

                                   Foto por Maria Clara Pereira

Os sex shops brasileiros também vêm trazendo os clientes para dentro da loja, não apenas os produtos para a casa de seus clientes. Estão surgindo, as famosas cabines de Peep Show, quais geralmente são uma área, formada por várias mini cabines que servem para a interação sexual entre diferentes pessoas: casais, desconhecidos ou até para a prática das relações de Swing. A dona da loja Sex Mundi, localizada na Rua Amaral Gurgel, Ruth Miranda, 42 anos, diz que seus clientes buscam cada vez mais pelas cabines, tanto os héteros quanto os homossexuais.

             O tabu dos sex shops

Sabe-se que apesar de toda a mudança na cabeça das pessoas ainda existe tabu em cima do universo erótico, que é associado à pornografia e à ousadia. Muitas pessoas possuem certo receio de entrar em um sex shop, de comprar um produto erótico, experimentar esse tipo de produto, entre outras coisas. De acordo com a ABEME, 83% da população brasileira nunca experimentou um produto erótico.
Carolina concorda que ainda há esse tabu, vergonha, aversão e até um pânico a esse mundo. Disse que há clientes que hesitam ao entrar na loja e principalmente ao sair. Ficam preocupados com a embalagem e como é a sacola. A empreendedora também conta que, devido a esse desconforto com o sex shop, sua loja possui uma dinâmica diferente: “A proposta na loja é bem diferente, o conceito da Lovetoys hoje é justamente proporcionar o conforto assim, o conforto psicológico da mulher, das pessoas entrarem e navegarem tranquilamente pela loja. Então tem os primeiros 5 minutos de ambientação, de respirar, olhar tudo, não querer falar com ninguém e depois respiram tranquilas, se sentem bem à vontade na loja.”.
E a vergonha não está só para quem está do lado de dentro da loja, mas, também, para quem vê de fora. As pessoas costumam achar cômico quem frequenta essas lojas e olham a pessoa diferente, fazem comentários e veem sempre certa ousadia em quem está visitando o local.
Com a influência da mídia, o mercado erótico está em alta e os vendedores desse setor acreditam que esse crescimento tende a continuar, devido à diminuição dos tabus e preconceitos para com a sexualidade em si. “Para quem começou há 20 anos, o preconceito era muito grande, achavam que eu era prostituta ou até lésbica, era muito difícil achar um namorado. Mas hoje não, as pessoas entram na loja com menos receio e enxergam o mercado erótico como algo mais comum.”, disse Ruth.

Virada Cultural proporciona novas formas de expressão para crianças

Aproveitando as diversas atrações da Viradinha, pais e filhos passam o dia no parque se divertindo e curtindo atividades desde às 9h até as 17h.
Por Maria Clara Pereira e Nathália Martins 
Hoje, 22 de maio, ocorreu a Viradinha Cultural, uma programação da 12ª edição da Virada Cultural destinada a crianças. Contando com mais opções de entretenimento infantil, várias atrações ocorreram no Parque Ibirapuera, como a Oficina de Culinária promovida pelo grupo Familiarte.
Desde 2008, o Familiarte estimula a “cultura do brincar” entre pais e filhos. “Nossa proposta são brincadeiras criativas para as crianças e para também estimular a interação entre os familiares.”, conta Paula Soares, 34 anos, sócia fundadora do grupo. A Oficina oferece formas de brincar em diversas áreas para que aprendam novas formas de se expressar com o mundo, desde teatro até culinária.


Este ano, a Oficina de Culinária incentivou a criatividade das crianças para decorarem seu próprio cupcake. Recebendo até 20 crianças por hora, durante três horas, contava com a ajuda de seis monitores que dividiam as crianças em dois grupos: enquanto 10 decoravam o cupcake, os outros 10 enfeitavam a embalagem de seus bolinhos.
Do lado de fora, os pais assistiam entusiasmados com a diversão de seus filhos. “A gente viu que ia ter bastante atividade para a idade dele: brincadeiras, show do Palavra Cantada, parte gastronômica.”, disse Kátia Pereira, 36 anos, mãe do Gabriel, 7 anos, que brincava na oficina.




O evento realizado pela prefeitura traz programações em todos os cantos da cidade de São Paulo para todos os públicos e com fácil acessibilidade.

Moradores a céu aberto

Mesmo passando por dificuldades, moradores de rua se ajudam na esperança de uma vida melhor

Por Maria Clara Pereira

Nos últimos 15 anos, a população de moradores de rua da cidade de São Paulo aumentou cerca de 83%, chegando a 15.905 pessoas vivendo nessas condições. Segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), feita em parceria com a Prefeitura. Desse total, 55% se encontram no centro de São Paulo.
Os perfis de quem vive na rua são diferenciados, segundo a assistente social do SPES (Serviço Promocional e Social da Paróquia de Santa Cecília) Maria Helena, a maioria das pessoas que chegam até ela procuram por ajuda para perder o vício em drogas ou álcool, para conseguir um emprego, refazer a documentação, conseguir cestas básicas, roupas, cobertores. “Aqui é um plantão social, onde são atendidos casos imediatos. Eles (os moradores de rua) têm que procurar a nossa ajuda, nós não vamos até eles.”, disse. A assistente social relatou ser comum também que homossexuais a procurem por não serem aceitos pela família, por sofrerem com a desestruturação familiar e não terem para onde ir, onde trabalhar.
Muitos são despejados pelas ações de reintegração de posse realizadas pela prefeitura ou até mesmo perdem suas casas por diversos motivos e acabam migrando para o centro da cidade, onde há uma maior infraestrutura e maior oportunidade de emprego. É o caso de Jhenyffer de Araujo, 28 anos, transexual, que se encontra em situação de rua há dois anos. Jhenyffer morava em uma favela na periferia de São Paulo, até que sua casa pegou fogo e não teve outra opção além de morar na rua e esperar pela ajuda do governo, que não chegou até hoje. Mas ela não perde a esperança “Era para eu receber ajuda do governo por três meses mas só recebi um. Me prometeram um apartamento Cingapura na Vila do Remédio em Osasco em 2012; já se passaram muitos anos desde então e diz que tá para sair esse ano. Assim que sair, eu posso sair da rua.”
Jhennyfer e sua amiga Bruna, 27 anos, reclamam da dificuldade para conseguir comida, usar o banheiro e também do preconceito que sofrem. “Tem muita dificuldade na rua, tem muito preconceito na rua, aliás, na sociedade, né. Por você ser gorda, por você ser magra, branca, negra, trans então nem se fala”, declarou Jhennyfer. Bruna vive na rua há oito anos e diz se encontrar nesta situação por opção, já que o marido não gosta de ficar em casa, “eu fico na rua quando eu quero, tem albergues, tem tudo... mas quando eu estou é por causa do meu marido que já está na rua há muito tempo,(...) por mim eu tava dentro de casa, mas fui me interessar por ele... é complicado”. Ambas frequentaram a Cracolândia e agora recebem ajuda do SPES. Dizem que a região próxima ao metrô de Santa Cecília é um lugar mais seguro, “Um ajuda o outro, como se fosse uma família. A vida na Cracolândia era mais difícil”, diz Bruna.  Pedro de Souza, 20 anos, convive com elas e cerca de mais 7 pessoas em frente à Paróquia de Santa Cecília. Pedro está na rua há um ano, “Eu saí da cadeia, não tinha para onde ir, passei pela Cracolândia e vim parar aqui”.

                              Foto por Maria Clara Pereira 

Alguns moradores de rua passam até a se juntar a movimentos sociais como a FLM (Frente de Luta Por Moradia) e a MSTC (Movimento Sem Teto do Centro), ou recorrem a centros de acolhida como o Centro de Acolhida de Santa Cecília, onde recebem acesso à capacitação profissional e conhecimento do mundo do trabalho por meio de cursos de qualificação profissional e desenvolvem habilidades com vista à conquista de empregabilidade, autonomia, inserção social e participação na vida pública e da comunidade.
Muitos criam raízes com a vida na rua, com as pessoas com quem convivem ali e realmente não desejam sair dessa situação. Buscam por ajuda para se alimentar, vestir e até trabalhar, mas não querem mais sair da rua, a casa deles é a céu aberto agora.

                              Foto por Maria Clara Pereira